segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Homens

Aos seus quatorze anos e às suas fantasias de contos de fada o Lucca chegou num cavalo branco com seus dezessete anos e num vôo da Itália cheio de carinho e carícias para dar ao seu início de crise-existencial-que-todo-adolescente-tem-é-fase-mesmo-não-liga-que-lá-em-casa-ficaram-do-mesmo-jeito. Prometeu-a mundos e fundos, chegava como quem vinha do florista, trouxe bichos de pelúcia e só não um broche da ametista porque o nome dela não é Teresinha. Como chegou, foi-se. Encontrou outra mais sorridente, mais bonita, mais misteriosa. Deixou-a esperando-o voltar por quase um ano e quando não o fez, a fez jurar sempre o não.

Aos seus recém-completos dezessete anos veio o Eros - pode acreditar, ele era exatamente o contrário do que dizem sobre tal deus do Amor - direto de "Candy", a única diferença é que o Eros era dez vezes mais bonito que o Heath Ledger. Com seus vinte e um anos na cara, seu cigarro na boca, seu Jack Daniels na mão e sua neve por cheirar, não perdeu tempo em a fazer mulher forte, mulher de bandido, mulher de chorar quando ele ia e ao seu retorno mostrar porra nenhuma de sentimento. Estapeando-o, às vezes, por sua incoerência, mas sem passar disso. Uma rocha para todos ao redor. Uma flor para ele, que sabia mergulhar nos seus olhos e nadar nas profundezas da sua alma como quem roda e se incendeia no fundo de um oceano. Um porto para ele, que sabia do  colo quente que ela tinha e incapaz de lhe falar palavras duras nas horas em que ele mais precisava ouví-las. Um guerreiro com um escudo para ele, que a via tão precisa quanto um Samurai que não hesitava em matar quem ousasse a acusar seu mestre e mentor. Uma boneca para ele, daquelas que você coloca num pedestal e não a toca, como ele nunca a tocou por julgá-la boa demais, nova demais, esperançosa demais. Decidida demais a ser o último com quem ela gastaria suas energias e quando a viu de quatro. No chão. Sem energias para uma noite rápida no boteco da esquina com as amigas, deve ter pensado: que garota dependente! Aquela ali tem atitude! É essa. E assim o Eros a deixou como quem enjoa de uma camisa. Aquela camisa que você amava, adorava, até velha, a usava. Depois encontrou outra camisa preferida e a primeira ficou de escanteio. Mas não vá você pensando que ele contou a ela da camiseta nova, como deixaria seu porto? Eis que o porto reformou-se e decidiu partir em retirada - dá pra imaginar algum porto partindo? Pois é -, sem notas e sem bagagem. Sem rumo, vadio, ouvindo a Adriana Calcanhotto a proclamar Maresia e gargalhando, decidido a conhecer a putaria.

É, jovem, a partir daqui não vai interessar muito porque eis o descortinar do romance. Eis a virada na vida de uma fã de Chico Buarque desde criança quando se vê sendo observada pelas vitrines, estando pra lá de pra frente e deixando qualquer um pra trás, vertendo sua vida nos cantos, nas pias, e, ali, sendo feliz. Já perdeu a conta, a garota, coitada. É o que dizem por aí. É o que o pai dela diz por aí desde que a coitadinha tinha seus quatorze anos. Pobre homem. Da missa não sabe um terço. Digno de o Eros cantar um Jorge Maravilha pra ver se o velho se situa. Sem mais. Sem menos. Obrigada, Sam, pela inspiração.









sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A mim

Então, minha jovem, chegou o dia do seu aniversário. Feliz revolução astral!
O meu desejo para você neste ano é que pegue todas as postagens na sua timeline que se referem a "sucesso" e jogue num vaso sanitário, dê descarga e, assim, você não precisará mandar todos esses desejos convencionais à merda. Entenda, a sua felicidade e realização pessoal não estão atreladas a algum curso, emprego ou até mesmo ao seu "valor de mercado". Algum imbecil inventou todas essas coisas e a ideia colou como super bonder. Provavelmente da linhagem do mesmo babaca que criou o "céu" e o "inferno", mas não vamos enveredar por esses caminhos. Não hoje.

É impossível chegar na data do seu nascimento e não fazer uma retrospectiva do que já foi, do que tem sido e do que é sua vida. Não gosto muito do será. Tento, todos os dias, arduamente, manter o "será" bem distante. A ideia de planejar não vem me acompanhando nos últimos tempos. Voltando à retrospectiva: para alguns é doloroso estar, a cada ano, mais "sozinho". Coloquemos desacompanhados de um contingente considerável de amigos. Coloquemos "amigos". Coloquemos ~amigos~. Ah... Não podemos esquecer da estimada família. Essa também colocaremos no quesito "família", ~família~, """"família"""". O que, sinceramente, não passa de algo que nos foi imposto, quase como quando te obrigavam a comer quando você era criança, enfiando na sua goela a porra de uma colher cheia de coisa que você, além de não estar com vontade de comer, passou a ter repúdio a partir daquele momento. Sua família é uma instituição, assim como a sua igreja. A família não tem nada de natural e, por favor, entenda: ninguém é obrigado a amar ninguém. Amor não está no "sangue". O amor - e o ódio - são consequências de uma convivência intensiva... Ou da falta dela. Sua mãe não é obrigada a te amar, seu pai não é obrigado a te amar. Você também não é obrigado a amá-los. Supere. Quando você passar a ser a sua melhor companhia (e lute por isso) talvez entenda que as coisas que eu te falo podem ser duras, mas não são frias. Acontece que quando nós interrompemos nosso processo de vitimização, as coisas ficam muito mais claras. Às vezes é melhor assumir toda a responsabilidade pela merda que você julga estar a sua vida. Inclusive aquela vez que você tinha seis anos, foi injustiçada pela sua mãe e levou uma surra daquelas dignas de uma longa noite de sono cheia de pesadelo. Assuma a culpa, responsabilize-se. Uma vez que você toma tudo para si, torna-se muito palpável e superável (apesar de ser um puta trabalho). E agora você deve estar pensando em como eu sou uma pessoa frustrada e infeliz com meus familiares. Saiba que isso não me acompanha, deixei no meio da minha estrada há um certo tempo os familiares que em nada me acrescentavam, assim como fiz com os "amigos" e com certos materiais. Infeliz não dá pra ficar e, convenhamos, a vida melhora: e muito.

E quem sou eu para te dizer a fórmula para melhorar de vida? Tenha um pouco de senso crítico e me mande para bem longe, você não seria a primeira a me dizer que eu acho que possuo a verdade e o mundo. Pode me dizer. Pode me gritar tudo isso. Não possuo nenhuma das duas coisas, mas sobre segunda eu preciso me colocar... Não sou dona do mundo, mas é capaz de eu ser filha do dono e, porra, o estrago pode ser bem maior. Nessas horas eu quero ser filha porque me convém. E não há nada de errado em você ser uma pessoa cheia das convenções, contanto que lhe convenha o que você fizer. "Há de ser tudo da lei", já dizia Crowley. Entenda, minha filha, da sua lei. Da lei de dentro. Porque a de fora está aí pra foder com toda a sua desenvoltura instintiva e humana. Porque é muito mais proveitoso você ser um egoísta assumido em querer seguir o seu caminho a tentar ponderar as coisas e não fazer nada pra você, nem pros outros. Não invente de ser o que dizem o que você é, nem de ser o que você almeja ser. Esquece. Sua essência é uma só e isso, baby, é algo imutável. Pode crer. Mas creia com força porque essa é uma verdade. Sinta-se bem em você, vista sua roupa, sem amarras. Corra como se não houvesse amanhã quando sentir algo te puxando, prendendo, apertando. Multiplique seu Tempo Kairos, faça esse favor a você.

No mais, seja. Não fale muito. Faça-me o favor de não ficar dizendo o que você é e o que não é porque durante a vida nós somos diferentes estados. Assista Persona, entenda Bergman quando ele coloca a palavra como algo que te impede de ser. Tire algum proveito disso.

Não mais mais um no mais, um demorado beijo e um apertado abraço. Daquele abraço que a gente se roça por inteiro no outro sem afastar o quadril. Leia mais Freud, ele vai te explicar.


14/01/2014





segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Afundamental

Não se chamas Boemia, mas aqui me tens de regresso. E convenhamos, o regresso é um processo que tem em sua natureza uma partida e partir é bom. Partir é excelente. Repartir é mais complicado. Complicado mesmo é escrever algo como se estivesse falando com alguém. Ah, mas agora me veio a brilhante ideia de enviar o link deste texto a alguns amigos... E passar por aquele velho e tão presente sentimento de procurar um buraco para enfiar a cara depois de receber um "Acabei de ler!" ou um simples "Li" tão incerto quanto a resposta que Bergman nos dá sobre a existência de uma outra vida após a morte. E por falar em Sétimo Selo, o céu começou a desabar por aqui. Em Teresina não chove, o mundo se acaba e ouvindo esses trovões é muito fácil imaginar Deus fazendo das nuvens prancha, todo molhado enquanto os anjos irados vão tocando suas trombetas furiosamente. Os anjos e Deus que me perdoem, mas enquanto eles vêm, Raul se encontra sentado ao meu lado na cama apontando para o lado de fora da janela Ói! Lá vem Deus! e essa imagem é a que eu queria retratar antes mesmo de falar do nosso Pai surfando nas nuvens de um céu carregado e rajado e suspenso no ar. Bora, Raul! É o último do sertão! Embarcados, combinamos de só ir até certo ponto, pois pegaríamos carona num disco voador naquele novo céu. Ô, ô seu moço! Mas não nos deixe aqui! Save our souls, please.
Era para ser um texto sobre o poder e a força da expressão e do peito aberto, mas até eu fiquei entediada com a ideia. Era pra ser um texto sobre como hoje eu pedi perdão e não doeu e um texto, acima de tudo, de como nós estamos sozinhos, cada dia mais sozinhos, em nossa caminhada aqui na Terra. E falo isso não com tristeza, mas sim com o peito aliviado e também muito rasgado pela realidade porque bobeira é não vivê-la, valeu, Caju! Talvez um texto sobre como tenho aprendido a me repreender todas as vezes que eu estiver pensando demais no amanhã ou no ontem, porque o que tenho em mãos é o agora e, jovem, é o que funcionará como material para o que eu estiver querendo fazer. Por falar em minhas querências, eu queria apresentar algo com fundamento mas saiu isso aqui. Talvez porque eu não tenha fundamento algum. E talvez até eu não precise ter. Nem você. Talvez porque esta não seja mais uma tentativa (das minhas milhões) de manter um blog porque eu sou moderninha e sei usar a porra da vírgula (eu acho que eu sei). E com certeza porque eu quero compartilhar com um possível estranho essa minha caminhada sozinha, como você tem a sua.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Hard Day's Night


When I'm home everything seems to be right.
When I'm home feeling you holding me tight, oh!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010


And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Such a heavenly way to die...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Flying High - Jem



But, oh... I feel so alive...
Oh, just wanna hold you;
Hold you so tight...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

In my life

De tanto não poder mais ter saudade
De tudo que já tive e já perdi
Dona menina
Eu me resolvo agora ir-me embora
Pra bem longe

"Cheguei em Brasília e vou trocar umas ideias com o presidente."

Minhas vindas para cá sempre são associdas à política. Confesso que no meu vôo vieram alguns políticos e eu realmente tive medo do avião cair. Brasília é mais. Dos lugares em que eu já estive, este é o responsável pela minha alegria duradoura. Talvez pela presença dos entes mais que queridos; talvez pela beleza da cidade. Talvez pelos motoristas que param na faixa de pedestre antes mesmo de você subir na calçada. Talvez seja uma junção disso tudo com o ar de férias. Para mim, nem os políticos tiram a beleza dessa cidade e, falando a verdade, eu nem lembro que eles existem enquanto estou aqui. Este lugar me faz esquecer das coisas ruins.