sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A mim

Então, minha jovem, chegou o dia do seu aniversário. Feliz revolução astral!
O meu desejo para você neste ano é que pegue todas as postagens na sua timeline que se referem a "sucesso" e jogue num vaso sanitário, dê descarga e, assim, você não precisará mandar todos esses desejos convencionais à merda. Entenda, a sua felicidade e realização pessoal não estão atreladas a algum curso, emprego ou até mesmo ao seu "valor de mercado". Algum imbecil inventou todas essas coisas e a ideia colou como super bonder. Provavelmente da linhagem do mesmo babaca que criou o "céu" e o "inferno", mas não vamos enveredar por esses caminhos. Não hoje.

É impossível chegar na data do seu nascimento e não fazer uma retrospectiva do que já foi, do que tem sido e do que é sua vida. Não gosto muito do será. Tento, todos os dias, arduamente, manter o "será" bem distante. A ideia de planejar não vem me acompanhando nos últimos tempos. Voltando à retrospectiva: para alguns é doloroso estar, a cada ano, mais "sozinho". Coloquemos desacompanhados de um contingente considerável de amigos. Coloquemos "amigos". Coloquemos ~amigos~. Ah... Não podemos esquecer da estimada família. Essa também colocaremos no quesito "família", ~família~, """"família"""". O que, sinceramente, não passa de algo que nos foi imposto, quase como quando te obrigavam a comer quando você era criança, enfiando na sua goela a porra de uma colher cheia de coisa que você, além de não estar com vontade de comer, passou a ter repúdio a partir daquele momento. Sua família é uma instituição, assim como a sua igreja. A família não tem nada de natural e, por favor, entenda: ninguém é obrigado a amar ninguém. Amor não está no "sangue". O amor - e o ódio - são consequências de uma convivência intensiva... Ou da falta dela. Sua mãe não é obrigada a te amar, seu pai não é obrigado a te amar. Você também não é obrigado a amá-los. Supere. Quando você passar a ser a sua melhor companhia (e lute por isso) talvez entenda que as coisas que eu te falo podem ser duras, mas não são frias. Acontece que quando nós interrompemos nosso processo de vitimização, as coisas ficam muito mais claras. Às vezes é melhor assumir toda a responsabilidade pela merda que você julga estar a sua vida. Inclusive aquela vez que você tinha seis anos, foi injustiçada pela sua mãe e levou uma surra daquelas dignas de uma longa noite de sono cheia de pesadelo. Assuma a culpa, responsabilize-se. Uma vez que você toma tudo para si, torna-se muito palpável e superável (apesar de ser um puta trabalho). E agora você deve estar pensando em como eu sou uma pessoa frustrada e infeliz com meus familiares. Saiba que isso não me acompanha, deixei no meio da minha estrada há um certo tempo os familiares que em nada me acrescentavam, assim como fiz com os "amigos" e com certos materiais. Infeliz não dá pra ficar e, convenhamos, a vida melhora: e muito.

E quem sou eu para te dizer a fórmula para melhorar de vida? Tenha um pouco de senso crítico e me mande para bem longe, você não seria a primeira a me dizer que eu acho que possuo a verdade e o mundo. Pode me dizer. Pode me gritar tudo isso. Não possuo nenhuma das duas coisas, mas sobre segunda eu preciso me colocar... Não sou dona do mundo, mas é capaz de eu ser filha do dono e, porra, o estrago pode ser bem maior. Nessas horas eu quero ser filha porque me convém. E não há nada de errado em você ser uma pessoa cheia das convenções, contanto que lhe convenha o que você fizer. "Há de ser tudo da lei", já dizia Crowley. Entenda, minha filha, da sua lei. Da lei de dentro. Porque a de fora está aí pra foder com toda a sua desenvoltura instintiva e humana. Porque é muito mais proveitoso você ser um egoísta assumido em querer seguir o seu caminho a tentar ponderar as coisas e não fazer nada pra você, nem pros outros. Não invente de ser o que dizem o que você é, nem de ser o que você almeja ser. Esquece. Sua essência é uma só e isso, baby, é algo imutável. Pode crer. Mas creia com força porque essa é uma verdade. Sinta-se bem em você, vista sua roupa, sem amarras. Corra como se não houvesse amanhã quando sentir algo te puxando, prendendo, apertando. Multiplique seu Tempo Kairos, faça esse favor a você.

No mais, seja. Não fale muito. Faça-me o favor de não ficar dizendo o que você é e o que não é porque durante a vida nós somos diferentes estados. Assista Persona, entenda Bergman quando ele coloca a palavra como algo que te impede de ser. Tire algum proveito disso.

Não mais mais um no mais, um demorado beijo e um apertado abraço. Daquele abraço que a gente se roça por inteiro no outro sem afastar o quadril. Leia mais Freud, ele vai te explicar.


14/01/2014





segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Afundamental

Não se chamas Boemia, mas aqui me tens de regresso. E convenhamos, o regresso é um processo que tem em sua natureza uma partida e partir é bom. Partir é excelente. Repartir é mais complicado. Complicado mesmo é escrever algo como se estivesse falando com alguém. Ah, mas agora me veio a brilhante ideia de enviar o link deste texto a alguns amigos... E passar por aquele velho e tão presente sentimento de procurar um buraco para enfiar a cara depois de receber um "Acabei de ler!" ou um simples "Li" tão incerto quanto a resposta que Bergman nos dá sobre a existência de uma outra vida após a morte. E por falar em Sétimo Selo, o céu começou a desabar por aqui. Em Teresina não chove, o mundo se acaba e ouvindo esses trovões é muito fácil imaginar Deus fazendo das nuvens prancha, todo molhado enquanto os anjos irados vão tocando suas trombetas furiosamente. Os anjos e Deus que me perdoem, mas enquanto eles vêm, Raul se encontra sentado ao meu lado na cama apontando para o lado de fora da janela Ói! Lá vem Deus! e essa imagem é a que eu queria retratar antes mesmo de falar do nosso Pai surfando nas nuvens de um céu carregado e rajado e suspenso no ar. Bora, Raul! É o último do sertão! Embarcados, combinamos de só ir até certo ponto, pois pegaríamos carona num disco voador naquele novo céu. Ô, ô seu moço! Mas não nos deixe aqui! Save our souls, please.
Era para ser um texto sobre o poder e a força da expressão e do peito aberto, mas até eu fiquei entediada com a ideia. Era pra ser um texto sobre como hoje eu pedi perdão e não doeu e um texto, acima de tudo, de como nós estamos sozinhos, cada dia mais sozinhos, em nossa caminhada aqui na Terra. E falo isso não com tristeza, mas sim com o peito aliviado e também muito rasgado pela realidade porque bobeira é não vivê-la, valeu, Caju! Talvez um texto sobre como tenho aprendido a me repreender todas as vezes que eu estiver pensando demais no amanhã ou no ontem, porque o que tenho em mãos é o agora e, jovem, é o que funcionará como material para o que eu estiver querendo fazer. Por falar em minhas querências, eu queria apresentar algo com fundamento mas saiu isso aqui. Talvez porque eu não tenha fundamento algum. E talvez até eu não precise ter. Nem você. Talvez porque esta não seja mais uma tentativa (das minhas milhões) de manter um blog porque eu sou moderninha e sei usar a porra da vírgula (eu acho que eu sei). E com certeza porque eu quero compartilhar com um possível estranho essa minha caminhada sozinha, como você tem a sua.