segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Afundamental

Não se chamas Boemia, mas aqui me tens de regresso. E convenhamos, o regresso é um processo que tem em sua natureza uma partida e partir é bom. Partir é excelente. Repartir é mais complicado. Complicado mesmo é escrever algo como se estivesse falando com alguém. Ah, mas agora me veio a brilhante ideia de enviar o link deste texto a alguns amigos... E passar por aquele velho e tão presente sentimento de procurar um buraco para enfiar a cara depois de receber um "Acabei de ler!" ou um simples "Li" tão incerto quanto a resposta que Bergman nos dá sobre a existência de uma outra vida após a morte. E por falar em Sétimo Selo, o céu começou a desabar por aqui. Em Teresina não chove, o mundo se acaba e ouvindo esses trovões é muito fácil imaginar Deus fazendo das nuvens prancha, todo molhado enquanto os anjos irados vão tocando suas trombetas furiosamente. Os anjos e Deus que me perdoem, mas enquanto eles vêm, Raul se encontra sentado ao meu lado na cama apontando para o lado de fora da janela Ói! Lá vem Deus! e essa imagem é a que eu queria retratar antes mesmo de falar do nosso Pai surfando nas nuvens de um céu carregado e rajado e suspenso no ar. Bora, Raul! É o último do sertão! Embarcados, combinamos de só ir até certo ponto, pois pegaríamos carona num disco voador naquele novo céu. Ô, ô seu moço! Mas não nos deixe aqui! Save our souls, please.
Era para ser um texto sobre o poder e a força da expressão e do peito aberto, mas até eu fiquei entediada com a ideia. Era pra ser um texto sobre como hoje eu pedi perdão e não doeu e um texto, acima de tudo, de como nós estamos sozinhos, cada dia mais sozinhos, em nossa caminhada aqui na Terra. E falo isso não com tristeza, mas sim com o peito aliviado e também muito rasgado pela realidade porque bobeira é não vivê-la, valeu, Caju! Talvez um texto sobre como tenho aprendido a me repreender todas as vezes que eu estiver pensando demais no amanhã ou no ontem, porque o que tenho em mãos é o agora e, jovem, é o que funcionará como material para o que eu estiver querendo fazer. Por falar em minhas querências, eu queria apresentar algo com fundamento mas saiu isso aqui. Talvez porque eu não tenha fundamento algum. E talvez até eu não precise ter. Nem você. Talvez porque esta não seja mais uma tentativa (das minhas milhões) de manter um blog porque eu sou moderninha e sei usar a porra da vírgula (eu acho que eu sei). E com certeza porque eu quero compartilhar com um possível estranho essa minha caminhada sozinha, como você tem a sua.

4 comentários:

  1. Escrever é quebrar tudo, gritar alto e pisar fundo.
    GK

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    1. É o poder de viver no extremo e o poder de viver pelos meios, se melhor lhe couber. É o poder.

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  2. Juro que gargalhei imaginando Deus pegando um tubo e Miguel dando aquele solo de guitarra! No mais, acho que essa caminhada meio sem rumo que a gente faz por aí vai nos levar a cruzar caminhos... Ou talvez eu ache isso porque também vivo de ideias engatilhadas e meio sem fundamento

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