domingo, 23 de maio de 2010

Letargo

Esvaiu-se toda a tristeza daquele domingo ao toque de determinada canção.
Era incrível como seu humor variava a cada diferente melodia; a garota respirava música. Tinha conhecimento da existência do mundo real, mas o achava muito entediante. Preferia entrar em seu mundo, como fazia agora. Ali ela era a protagonista de todas as histórias; sem notar, fazia caras e bocas, gesticulava, dava risadas. Para cada canção havia seu par romântico, este vinha direto do mundo real; ela tinha preguiça de imaginar um parceiro ideal para si. Nunca era o mesmo garoto, ah, não! Nenhum homem merecia estar em mais de uma canção, era um desperdício. Cada toque de instrumento a lembrava de um parceiro diferente. A cada lugar que ia se apaixonava por alguém. Minutos, horas... era ali em que se perdia no seu mundo particular. Encenava repetidas vezes em sua cabeça sorrisos e expressões diferentes, entrava na cabeça do garoto e ali mesmo o fazia se apaixonar pela garota que ali havia encontrado por um acaso. Pouco depois lá estava ela de volta àquele mundo abstrato. Ah, se ele ao menos a olhasse! Não que isso não acontecesse, mas não passava desse ponto. Talvez pelo medo que a garota tinha de que algo daquilo se tornasse real e seu mundo fosse invadido.

O vento frio invadiu a janela e tocou sua pele, acariciando-a. Aquilo não fazia parte da música, então ela abriu os olhos e observou a cortina parada, sentiu o suor grudado em seu colo, olhou a televisão já desligada, tudo escuro... Levou a mão até sua orelha e seu fone de ouvido não estava ali, sentou-se no sofá com uma onda de raiva passando por cada terminação nervosa de seu corpo. Acabou o domingo e a segunda-feira começava empurrada. Ela olhou para os lados e achou um dos fones, o levou até sua orelha e fechou os olhos, deitando-se novamente e mergulhando em mais alguma fantasia.

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